quarta-feira, 12 de maio de 2010

Síntese do Debate sobre Autenticidade e Transparência na Rede

   
Síntese do Debate sobre Autenticidade e Transparência na Rede
(Educação e Sociedade em Rede)
  
  
Ao longo dos últimos dias, debatemos em equipa a questão da autenticidade e transparência na rede. Deste debate surgiram várias ideias interessantes que vou sintetizar mais abaixo. Por uma questão de clareza, vou apresentar essas ideias como resposta às questões que o moderador do debate, o professor António Teixeira, nos colocou.
  
  
(1) Em que medida a nossa identidade digital é um prolongamento da nossa identidade pública ou um campo alternativo de expressão de uma dimensão escondida da nossa personalidade íntima?
  
Na vida, todos assumimos diferentes papéis e revelamos partes da nossa personalidade de acordo com o grupo no qual nos movimentamos na altura. Isso aplica-se tanto ao mundo real como ao mundo virtual da internet. Temos uma identidade pública profissional, familiar, social, religiosa, etc. Assim, temos também uma identidade digital que se aproximará o mais possível dessas diferentes identidades públicas. Neste curso, cada aluno e professor criou uma identidade digital, revelando com transparência as informações adequadas às circunstâncias. Essa transparência permite a criação de uma comunidade e facilita a comunicação e a cooperação, sendo essencial para o estabelecimento de um bom ambiente de aprendizagem. No entanto, apesar disso, por se tratar de uma criação não espontânea, que resulta de uma reflexão inerente ao processo de escrita, há uma certa filtragem das nossas características, criando-se uma identidade mais próxima do que nós gostaríamos de ser ou do que achamos que os outros gostariam que nós fôssemos.
  
Contudo, protegidos pelo anonimato e escudados pela virtualização do ciberespaço, é possível e fácil construir uma identidade digital que não corresponde à identidade pública, mas que seja o reflexo de uma personalidade íntima que muitos não se atrevem a expor publicamente, mas que exibem na internet. Daí a criação de perfis com idades, histórias, personalidades, aparência física ou género diferentes dos reais. Daí a utilização de fotografias nos perfis que correspondem ao que muitos gostariam de ser, mas que não são. Daí a presença de 10% de adultos em comunidades virtuais de adolescentes, fazendo-se passar por jovens para se aproveitarem dos mais ingénuos.
  
Igualmente grave é a criação da identidade digital de outrem, possibilitada pela internet. È possível fazer-se passar por outra pessoa e divulgar informações falsas que vão denegrir a sua imagem pública.
  
Assim, podemos concluir que, embora a nossa identidade digital seja uma construção nossa, resultante de um processo de reflexão e de selecção da informação que queremos transmitir sobre nós próprios, há uma forte relação entre a identidade digital e a identidade pública, por um lado, havendo, por outro lado, outras circunstâncias em que essa identidade digital é a expressão de uma dimensão escondida da nossa personalidade íntima.
  
  
(2) O perigo da fraude intelectual (ex.: plágio) aumentou com o advento da internet?
  
Muito antes da internet, já o plágio existia, tanto em circunstâncias escolares como noutras. Mesmo hoje, existem apropriações ilegais do trabalho intelectual de outros, como sucedeu recentemente no Brasil, onde um professor universitário publicou um artigo numa revista científica em que apenas 23% do artigo era original.
  
No entanto, não se pode negar que a internet veio facilitar e muito o plágio, pois o acesso à informação é fácil e rápido. O processo de cópia é ainda mais fácil: bastam alguns segundos para copiar e colar. Publicar essa cópia fraudulenta é igualmente rápido. Tudo isso é feito sem quaisquer problemas de consciência, caso contrário não se encontraria um número considerável de blogues e páginas pessoais em que a mesma informação está escrita exactamente com as mesmas palavras, o que levanta a questão da importância de uma entidade que assegura os direitos de autor de trabalhos publicados na internet.
  
Com o desenvolvimento da cibercultura, no mundo digital cada interveniente é um autor e a construção do saber faz-se inevitavelmente a partir da pesquisa e análise de estudos de outros autores, num espírito de partilha. No entanto, é preciso não cruzar a linha que separa essa construção a partir do outro do plágio, fazendo-se a devida referência bibliográfica ao trabalho alheio.
  
Por outro lado, na própria internet já foram criadas ferramentas que permitem detectar o plágio, pelo que podemos concluir que a internet veio facilitar não só a fraude intelectual, como a sua detecção.
  
  
(3) É possível alguma entidade particular ou alguém (e se sim, qual ou quem) controlar a rede?
  
A questão do controlo da rede é muito complexa. Existem formas de controlar tanto o que é publicado como aquilo a que se tem acesso, como se compreende pelo que se tem passado na China, por exemplo. Além disso, existe tecnologia que permite localizar uma informação até à sua fonte, contrariando a ideia que muitos têm de que podem permanecer absolutamente incógnitos na rede.
  
No entanto, até que ponto esse controlo é positivo? Se, por um lado, é importante para evitar o aparecimento e divulgação de conteúdo pornográfico, violento, de subversão governamental, extremismo religioso, racismo ou terrorismo, por outro pode colidir com a liberdade de expressão individual, especialmente se os órgãos responsáveis por esse controlo forem os governos ou as empresas. Talvez o mais adequado fosse atribuir essa responsabilidade a várias entidades ou a uma entidade imparcial.
  
Contudo, mais do que um controlo fiscalizador, o caminho deverá passar por uma aprendizagem de valores éticos que conduzam os utilizadores da internet a dar-lhe um uso correcto. Tal como já se apostou no “ensino” da reciclagem, é importante apostar na educação de cibernautas responsáveis, embora se trate de um processo lento e difícil, que levará anos a dar os seus frutos.
  
  
(4) Em que medida a rede é segura e em que medida a informação nela partilhada é confiável? Quem o pode garantir?
  
Se recordarmos a definição de Sociedade em Rede que foi elaborada na actividade 1, é fácil encontrarmos a resposta a esta pergunta:
  
«A expressão Sociedade em Rede é usada para descrever uma nova ordem social, que resulta da globalização de comunidades preexistentes e emergentes, organizadas em torno de interesses comuns. Trata-se, assim, de uma sociedade marcada pela multiculturalidade e diversidade, mas intimamente interligada numa escala local e global através da Internet, principal suporte de comunicação. (…) A Sociedade em Rede pode ser considerada uma sociedade informacional que privilegia as redes sociais enquanto espaço de construção e partilha da informação. As redes são estruturas abertas, dinâmicas, susceptíveis a uma constante inovação, o que resulta numa permanente alteração da forma como recebemos e partilhamos a informação e o conhecimento, acrescida de um aumento da velocidade associada a esse processo. (…) Aliás, aprender deixa de ser apenas adquirir conhecimentos, passando a ser, também, adquirir padrões de conectividade dentro de uma comunidade criada e alimentada, não apenas por peritos mas por todos os membros. (…)»
  
A partir do momento em que cada indivíduo pode construir e divulgar o que quiser, não há como garantir a segurança da rede. De facto, vários são os membros que pretendem retirar benefícios apenas para si próprios, divulgando informações fraudulentas, recorrendo a publicidade enganosa ou roubando dados bancários a outros. Assim, não podemos considerar que a rede seja um espaço absolutamente seguro, mas essa insegurança existe igualmente em todos os outros meios de comunicação ou ainda noutras esferas da vida, não sendo por isso que não recorremos a eles. A falsidade das informações nem sequer é um fenómeno recente, sendo praticamente tão velha como a humanidade.
  
Mesmo que exista uma entidade que controle o tipo de páginas que surgem, dificilmente alguém poderia controlar a qualidade do conteúdo de tudo o que é publicado, pois a velocidade a que tudo se processa é enorme.
  
Aqui entra, então, a questão do bom senso. Se tivermos consciência dos perigos da internet, poderemos facilmente fazer uma utilização equilibrada da informação que circula nela. Consultar sites oficiais quando queremos informações fidedignas é uma boa estratégia. Na inexistência destes, cruzar as informações disponibilizadas em vários sites diferentes é outra estratégia. Não acreditar em tudo o que lemos em fóruns de discussão é, seguramente, a melhor atitude.
  
Assim, se fizermos uma utilização responsável da internet, poderemos tirar todo o proveito deste recurso fantástico.
  

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